quinta-feira, 1 de agosto de 2013

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Ex-comandante da Rota nega autoria em massacre do Carandiru: “não fui eu e não foram os meus homens”

Salvador Madia é interrogado sobre morte de 73 detentos; julgamento está no quarto dia. “Não fui eu”. Foi assim que o ex-comandante da Rota, tenente-coronel Salvador Modesto Madia, defendeu-se da acusação de que teria participado da morte de 73 detentos no terceiro pavimento (2º andar) da Casa de Detenção de São Paulo, em 2 de outubro de 1992. No episódio, que entrou para a história como massacre do Carandiru, 111 presos foram assassinados. A afirmação de Madia foi feita durante interrogatório, nesta quinta-feira (1º). Ele é o último réu a ser ouvido no quarto dia de julgamento do caso, que acontece no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oesta da capital paulista. Esse é o segundo júri dos envolvidos no massacre. O primeiro aconteceu em abril deste ano. Perguntado pelo juiz Rodrigo Tellini Camargo de Aguirre quem seriam os responsáveis pelas 73 mortes das quais 26 réus, incluindo Madia, são acusados, o policial destacou não ter sido ele ou seus homens os autores dos homicídios. — Não fui eu nem meus homens. Não sei (se policiais militares mataram). Eu entrei e saí do pavilhão em 15 minutos. Além de relembrar a ação no dia 2 de outubro de 1992 no pavilhão nove da Casa de Detenção, Madia explicou que teve que lidar com “tiros e explosões” durante a entrada dos policiais da Rota em direção ao terceiro pavimento. Lá, ele encontrou um cenário “indescritível”, com os agentes sendo recebidos a tiros e muita violência, segundo relatou. O tenente-coronel da PM estima ter visto “de 15 a 20 corpos” durante a ação. Contudo, esse foi um dos poucos detalhes que ele aceitou dar. Sempre quando confrontado com o pedido de informação sobre a intervenção da polícia, como o número de tiros disparados por ele e seus homens, Madia dizia “não se lembrar”, alegando que já faz 21 anos desde que o fato aconteceu no presídio. “Planos Boreal e Carandiru” Supostamente concebidos para controlar rebeliões na Casa de Detenção, os planos Boreal e Carandiru foram alvo de perguntas ao ex-comandante da Rota. Ele evitou falar em nomes (“não me lembro”), mas afirmou que existia, sim, um planejamento prévio de ação para entrar na cadeia. Perguntado se a Rota fazia parte do planejamento, ele disse que sim, em um caso específico. — Se houvesse alguma intervenção de existência de arma de fogo. O interrogatório de Madia começou por volta das 13h40. A expectativa, segundo a assessoria de imprensa do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), é de que dure de quatro a cinco horas, conforme foi informado previamente pela advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza. Em seguida deverá ocorrer a leitura de partes do processo no plenário e a exibição de alguns vídeos. O início dos debates entre acusação e defesa está previsto para esta sexta-feira (2), com a sentença sendo esperada para a madrugada de sábado (3). Vinte e seis policiais militares se sentam no banco dos réus, acusados pela morte dos 73 detentos. Os PMs respondem por homicídio doloso (com intenção de matar) qualificado (motivo torpe, meio cruel, dificultação de defesa e acobertamento de outro crime). Primeiro dia O primeiro dia de julgamento foi marcado pela dispensa de sete das oito testemunhas da acusação. Apenas o perito criminal Osvaldo Negrini foi interrogado. Ele disse ter visto um “mar de cadáveres” e presenciado um “rio de sangue” ao chegar à Casa de Detenção no dia 2 de outubro de 1992. O depoimento de Negrini começou por volta das 14h10 e terminou pouco depois das 16h30. Segundo dia No segundo dia do júri, foram ouviram no plenário, o ex-secretário de Segurança Pedro Franco de Campos e o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho. Além deles, mais duas testemunhas protegidas prestaram depoimento. A defesa ainda exibiu dois vídeos com depoimentos dos desembargadores Luiz San Juan França e Ivo de Almeida. França era juiz da Vara das Execuções Criminais da Capital em 1992. Já Almeida era corregedor dos Presídios da Capital na época. Terceiro dia O terceiro dia do júri começou com atraso, por volta das 11h50 da quarta-feira (31) — estava previsto para começar às 9h — e terminou às 2h30 da madrugada desta quinta-feira, depois de 15 horas de julgamento. Para este dia, foi programado o interrogatório dos 26 réus. Em uma estratégia da defesa, a maioria optou pelo direito de ficar em silêncio. Só quatro oficiais responderam às perguntas. O último a ser ouvido, de madrugada, foi o tenente Edson Pereira Campos, que era soldado na ocasião dos fatos. Relembre o caso O massacre do Carandiru começou após uma discussão entre dois presos dar início a uma rebelião no Pavilhão 9. Com a confusão, a Tropa de Choque da Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, foi chamada para conter a revolta. Ao todo, 286 policiais militares entraram no complexo penitenciário do Carandiru para conter a rebelião em 1992, desses 84 foram acusados de homicídio. Após Carandiru, massacre continua atrás dos muros das prisões, diz Pastoral Carcerária Em abril de 2013, 26 policiais militares foram levados ao banco dos réus pela morte de 15 detentos no segundo pavimento do pavilhão nove no massacre do Carandiru. Após sete dias de julgamento, a maioria foi condenada por homicídio qualificado — com uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Naquela ocasião, seis homens e uma mulher formaram o Conselho de Sentença. Dos 26 policiais, 23 foram condenados a 156 anos de prisão, inicialmente, em regime fechado. Os réus receberam a pena mínima de 12 anos por cada uma das mortes dos 13 detentos. Os condenados poderão recorrer em liberdade. Outros três PMs foram absolvidos pelo júri, que acatou o pedido feito pela acusação. Antes deles, Ubiratan Guimarães chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, porém, um recurso absolveu o réu e ele não chegou a passar um dia na cadeia. Em setembro de 2006, Guimarães foi encontrado morto com um tiro na barriga em seu apartamento nos Jardins. A ex-namorada dele, a advogada Carla Cepollina, foi a julgamento em novembro do ano passado pelo crime e absolvida. Dezessete testemunhas foram convocadas. Onze de acusação e seis de defesa Do total, 12 eram aguardadas no tribunal, enquanto as outras cinco teriam vídeos dos seus depoimentos apresentados no plenário. Entre elas, estão o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho e o secretário de Segurança na época do massacre, Pedro Franco de Campos.



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